Lua Cheia_28 março 2021
Uma das condições primeiras da experiência humana é a dança das polaridades, contrariando o nosso apego à fixidez, a crença teimosa de que conseguiremos parar o fluxo da vida e guardar as circunstâncias que (em dado momento) consideramos ideais. Projetamos no exterior cenários de eternidade, instituindo, de imediato, condições para o nosso acrescido sofrimento. Esta mania afeta sobretudo o Ocidente, aferrado à hiper-racionalidade, protegido pelo usufruto das benesses da colonização, resultado das tecnologias de guerra que nos permitiram conquistar meio mundo, sob uma ética dissociativa que via no outro alguém menos que humano.
Esta super lua, tão gorda no céu, recorda-nos a importância de equilibrar distâncias, qual fiel da balança no ponto do meio, para aferir medida justa, princípio do acordo entre partes díspares. Num momento em que é tão fácil adotar o dogmatismo, reforçando ruturas, na certeza absoluta da verdade, será interessante poder oscilar entre cá e lá, para ver e incluir diversidade, numa síntese de opostos criadora do novo.
Para realizar com êxito este jogo de equilíbrio, urge alinhar o nosso eixo interno, através de práticas como a meditação, as disciplinas físico-energéticas (o Yoga, o Chi Kung, entre outras), ou a contemplação da natureza e o exercício criativo. Também as nossas opções de consumo, tanto a nível alimentar como de vestuário e entretenimento, são vitais para garantir a estabilidade deste fulcro, num momento em que a velocidade da mudança é a nossa única certeza.
Ser fiel começa, pois, pela escolha de cultivar e refinar a atenção, para saber reconhecer e aceitar aquilo que é, além da cortina mental que nega ou elabora. Tal implica apurar o silêncio interno, num mundo que domina pelo incessante ruído, gerado tanto pela instantaneidade da gratificação, à velocidade de um clique, como pelo imenso manancial de informação que nos chama, segundo a lógica do quanto mais melhor. Na verdade, porque por vezes mais é menos, ser fiel começa sempre no singular, no compromisso contigo mesmo, cabeça sob o coração.
Image Diana V. Almeida. Street Art, Lisboa.