Lua Cheia, 19 novembro 2021
Uma vez, quando era pequena, recebi de presente um rádio portátil: era incrível levar a música para todo o lado; só tinha de garantir a recarga de pilhas (pagas com a semanada) e a paciência de sintonizar. Às vezes esta operação demorava imenso tempo e eu tinha de andar às voltas com o rádio, até descobrir o local mais favorável para acertar numa estação, que podia nem sequer ser aquela que me apetecia ouvir na altura. Quando alcançava esse território do som articulado, era preciso rodar o botão com uma precisão milimétrica para apurar o som, perceber se queria ficar ali e, por fim, encontrar a frequência que me permitisse escutar a música com clareza.
Embora hoje em dia a digitalização tenha tornado o acesso à informação muito mais simples, continuamos a precisar de cultivar o empenho da busca e a perseverança confiante de que, entre o ruído distorcido, haverá um texto coerente a decifrar. Só com esta atitude seremos capazes de vivenciar a intensidade desafiante em que nos encontramos, alinhando-nos com uma frequência elevada.
É fácil perdermo-nos entre estações, ou mesmo ficarmos presos numa estação que não nos interessa por aí além. Se cedermos ao cansaço cínico, não teremos forças para prosseguir a demanda de sentido, pois a dúvida mina o caminho e impede a progressão. Mais do que nunca, será, pois, importante confiar, ancorados na clareza da intuição — aquela voz que vem primeiro e depois começa a ser contrariada pela esperteza saloia da mente, sempre pronta a contra-argumentar. Importante também será alinhar a nossa frequência energética com o sucesso da nossa intenção, que de obstáculos está o mundo cheio.
Agora, cada vez mais, queremos fazer da nossa vida uma canção afinada, para inspirar quem nos rodeia a sintonizar um canal luminoso. E assim nos elevamos juntos, na certeza de que esta onda energética é bem mais do que a soma das suas partes.