Lua Nova, 23 dezembro 2022
Esta Lua vem dois dias depois do solstício de inverno, em que mergulhámos na mais longa noite do ano, enfrentando os temores da escuridão e acolhendo as suas bênçãos. Bem fundo na terra, as sementes aguardam o tempo de germinar, quebrando sua forma para iniciarem uma transformação radical. Desse processo de putrefação generativa surge o novo que, guardando embora traços ancestrais, inaugura a singular viagem de cada ser no planeta.
Nunca nada é igual na natureza, apenas a nossa atenção falha nos leva a imaginar a possibilidade de repetição. Os ciclos de expansão e morte, renascimento e maturação, queda e retorno são idênticos, sim, mas sempre abertos ao mistério do possível. Chamamos-lhe livre-arbítrio, no reino humano, crendo no movimento evolutivo da consciência, espelho da centelha divina do Ser.
A Lua Nova abre este potencial de retomar princípios, aferindo escolhas, apontando seta, se possível, sem apego ao resultado final, concentrados no momento presente, na entrega absoluta à ação. Estar vivo é crescer a cada instante, atentos à potência da metamorfose.
Caminhamos juntos para mais um final de ano, em que biliões de pessoas no mundo fixam novas intenções, na esperança de recomeçar. Ainda que desligados destes rituais, reverbera em nós a intencionalidade coletiva, acrescida de conjunções planetárias que convidam à renovação (temos cinco Luas seguidas no primeiro grau do seu signo, sendo esta a segunda, e uma série de outros indícios do novo).
Possamos rever os passos dados, em particular nos últimos três anos, que mudaram o mundo, e, cientes do caminho percorrido, abrir o coração ao devir. Vamos sonhar alto, com raízes firmes, honrando o nosso percurso, que traz em si milénios. Avancemos cientes da sabedoria dos antepassados, nossa herança, capazes de curar antigas feridas que ainda nos ressoam no sangue, e alinhar a nossa intenção com a energia criativa do Amor. Confiemos que cada passo nos leva ao lugar onde nascem bênçãos renovadas.
