(re)Enquadrar

Lua Cheia_20 setembro 2021

Os dias caem à velocidade da vida, trocando-nos as voltas. Caem os amores, caem os impérios, a saúde, a segurança, as balizas, sendo a mudança a única certeza, como cantam desde há muito os poetas. Falham as palavras, nesta sucessão de derrocadas. Somos tentados à desesperança, talvez, ao esquecimento, à apatia, ao cinismo, entre tantos outros caminhos de fuga.

Porém, como recorda a psicóloga Edith Eger, sobrevivente dos campos de concentração nazis, onde aprendeu a inviolabilidade da força interna, cabe-nos perguntar — e agora? Se nos prendermos à razão, entramos na lógica da vítima, que se acha no direito de reclamar com o destino, por não ter preenchido as suas expetativas. Indagar o motivo da injustiça em que nos vemos enredados, na crença de que merecemos sempre mais, ou outra coisa, vai-nos tornar prisioneiros da mente, no seu corrupio infindo.

Para seguir em frente precisamos, antes, de reenquadrar a nossa narrativa, assumindo outra mais ampla visão — podemos mesmo fazer o exercício do zoom out e imaginar como veremos as atuais circunstâncias daqui a 6 meses, 1 ano, 5 anos, 30 anos… Onde estaremos, então, e como nos terá servido a atual experiência de vida? Em vez de te contares um(a) coitadinho(a), escolhe reconhecer e acolher o que sentes, para depois respirar além da dor, aceitando as lições da vida.

As repetições de padrão só mostram que precisas de mudar algo em ti, a começar pelo modo como lês o mundo, escolhendo como agir na dinâmica viva que nos tece a cada instante. Esta Lua intensifica a polaridade entre entrega e controlo, recordando que a liberdade atua no espaço entre confiança e ação, na consciência de que o nosso (pequeno, grande) poder reside no modo como escolhemos enquadrar, reenquadrar criativamente o que nos sucede.

E agora?

Image Diana V. Almeida. Street Art
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