Lua Nova, 17 julho 2023
Tive um professor de yoga que era monge budista. Nas suas vestes ocre e grená, sentava-se em posição de lótus e lia as escrituras, estreitas tiras de papel numa caixinha em madeira trabalhada. As aulas eram estruturadas por uma sequência mais ou menos regular, anunciada pelo nome do asana em sânscrito. Por vezes, os alunos confundiam o exercício e o monge, com certa impaciência mal contida, erguia-se de um salto, numa flexibilidade inesperada, e exemplificava a postura. De seguida, voltava a sentar-se e retomava a leitura.
Ora um dia, recomendou-nos o filme Primavera, Verão, Outono, Inverno e… Primavera, de Kim-ki Duk, que estreara em Lisboa. Eu atravessava um período conturbado, enredada em infinitas elucubrações mentais sobre o final de uma relação amorosa.
Era verão e a sala estava quase vazia, na sessão da tarde. Queria um filme redentor, mas as minhas expetativas saíram goradas (como sucede amiúde, lembrando-nos da futilidade de projetar futuros). Abordei, pois, o professor no final de uma aula, perguntando por que motivo o mestre budista se suicidara, ao perceber que o seu pupilo cede à violência do ciúme.
O professor demorou algum tempo a situar a cena e soltou uma gargalhada perplexa — um mestre nunca atentaria contra a sua própria vida. Ele matou-se para salvar o discípulo, insistia eu. A resposta do professor ficou comigo até hoje. Falou de mistérios kármicos e do superior conhecimento da mestria. E depois acrescentou, displicente — “Ninguém salva ninguém. Mas podemos fazer toda a diferença do mundo”.
Vivemos dias de mudança interior acelerada, em que muitos se confrontam com padrões disfuncionais profundos, prestes a bloquear o seguimento dos planos, pedindo cura. Não nos podemos salvar, bem certo. Mas a nossa atenção inteira, a disponibilidade para a presença viva (ainda que mediatizada por máquinas, caso não possamos galgar a distância), faz mesmo toda a diferença.A solidão corrói e adoenta, pesa, mata. Somos tecidos e refeitos em comunidade de amor. Disponíveis para uma troca ativa, podemos iluminar mutuamente as nossas vidas, em movimento.
sobre o meu trabalho
Próximos convites — 22 julho: Caminhar no Coração, com Maria João Ferraz (10-14h, Floresta de Sintra)
30 setembro: (Pré)Menopausa em Círculo, com Avani & Rute Novais (16h-18h, Shamballa Yoga Retreats, Fontanelas, Sintra)
O meu serviço centra-se em três áreas — Energia, Criatividade e Visão
Ofereço uma terapia holística, combinando energia, taças tibetanas, cristais, sinergias de óleos essenciais personalizadas e (se a tua pele quiser ser tocada) massagem intuitiva — Afinar o Coração.
Proponho workshops de desenvolvimento humano, unindo escrita e meditação, ou mentorias criativas individuais para desenvolveres um projeto de escrita ou trabalhares um tópico específico — Escrever o Coração.
Realizo Rituais Fotográficos que honram a beleza singular de cada Ser — Retrato Sagrado e Corpo Vivo: Deusa Grávida.
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Grata. Bem-hajas!