Lua Nova 12 dezembro 2023
Desde que aprendemos, ou melhor, desde que começamos a construir a gramática da nossa língua materna, produzimos e deciframos milhões de textos. Para ser reconhecido como tal pelos falantes, um texto deve obedecer a várias regras — uma das mais importantes é a coesão, que podemos descrever de modo simplista como a “cola do texto”; outra, a coerência, que garante a globalidade do sentido. Os princípios da coerência refletem a experiência individual e a mundivisão partilhada num dado contexto histórico-cultural, que tornam certos textos válidos e outros (como “adoro caminhar no teto da minha sala!”) algo questionáveis.
Em última instância, estas propriedades textuais dependem da cooperação entre os interlocutores, cuja boa-vontade contribui para tornar possível o processo comunicativo. Podemos, pois, dizer que tecemos juntos o sentido do mundo, nos vários textos que trocamos, procurando unificar as sequências discursivas num todo significativo.
Ora, a partir da primeira infância, o processo de formação do eu depende progressivamente de competências linguísticas, que nos permitem ir elaborando uma narrativa coerente e coesa. De facto, para nos firmarmos como indivíduos no mundo precisamos de organizar a psique numa unidade funcional. Este trabalho implica criar elos interrelacionais, na medida em que a rede neuronal humana está programada para a conexão.
Porém (já cá faltava a adversativa para dar cabo do raciocínio), o nosso bem-estar depende também, desde cedo, da capacidade de autorregulação. Ainda no período intrauterino, começamos por chuchar no dedo, para irmos depois desenvolvendo diversas estratégias que nos permitem diminuir a ansiedade e gerar estados de maior congruência, face a circunstâncias externas que nem sempre (ou quase nunca, dependendo da perspetiva) vão ao encontro dos nossos desejos.
Como adultos, é fundamental não descurarmos esta necessidade básica, para evitarmos cair na fragmentação, que vai desde pequenas falhas de atenção, mais ou menos graves na gestão do quotidiano, até ao burnout. Assim, particularmente neste momento histórico, em que lidamos com tantos e acerados estilhaços, é fundamental reaver recursos, assumindo o dever de cuidar de mim. Por outro lado, será também importante compreender a natureza processual desta dinâmica de coerência interna, que por vezes chama pausas, para que possamos reconfigurar as nossas histórias. Tal pede silêncio (estado difícil de alcançar, na velocidade do tempo), gentileza e, antes de mais, disponibilidade para nos desfazermos e refazermos.
Não era bem este o texto que queria escrever, mas para aqui me guiaram as palavras. A verdade é que qualquer movimento de mudança começa no espaço secreto onde habita a totalidade do nosso ser. Queremos ver mais histórias de harmonia dentro e fora, no círculo onde nos movemos dia-a-dia.
#image_dianavalmeida — Boomland, Summer, 2016.
sobre o meu trabalho
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Realizo Rituais Fotográficos que honram a beleza singular de cada Ser — Retrato Sagrado e Corpo Vivo: Deusa Grávida.
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