Comunidade de fé

Lua Cheia 1 agosto 2023

A palavra “fé” convoca alguns mal-entendidos e é, quase sempre, percebida como sinónimo de uma religião particular. Em nítida contradição com a raiz etimológica da palavra religare — voltar a ligar, restabelecer os elos entre o espírito e a matéria —, ao longo dos séculos, as instituições religiosas têm-se vindo a devotar à cisão.

Por um lado, servem como meio de consolidação dos poderes laicos, cimentando reinados, legitimando o exercício de força das autoridades constituídas. Por outro lado, sendo, juntamente com o estado-nação, um dos mais fortes fatores distintivos da identidade, as religiões geram alteridade; ou seja, promovem a ideia do outro como alguém fundamentalmente diferente de mim. Ainda que hoje em dia algumas igrejas se apresentem como universalistas e impulsionadoras do diálogo interconfessional, cada religião organizada crê ser o único canal de acesso ao divino, ou, pelo menos, a autoestrada da fé, sendo os restantes caminhos vias secundaríssimas para (eventualmente, quem sabe) se chegar ao mesmo lugar.

Historicamente, as instituições religiosas serviram também para catalisar atos de bondade, para organizar as paixões dispersas do ser humano, ensinando processos de autossuperação, sugerindo meios de atingir uma maior coerência interna. Porém, sobretudo no ocidente, é inegável o lastro de violência e de supressão que a nossa maior fação religiosa perpetrou. O corpo foi separado da alma e considerado mal maior, numa igreja presidida por homens, adorando uma divindade sem sexo, nem prazer, pecados mais que capitais. Eliminaram-se populações inteiras por se afastarem dos dogmas ortodoxos, como os cátaros, que, além do mais, recusavam o conceito da propriedade privada e eram vegetarianos. Perseguiram-se milhões de mulheres ligadas a correntes xamânicas ancestrais, conhecedoras do saber da terra, das plantas e dos animais. Em nome da evangelização, justificou-se o imperialismo, conducente à exploração extrativista, à escravatura e à aniquilação da cultura dos povos nativos. E por aí fora.

Estes extremos conduziram ao ateísmo materialista que ainda hoje cega a maioria da população ocidental e justifica a lógica lucrativa do crescimento contínuo capitalista. Incapazes de acolher o silêncio, de escutar o mistério, vemos só cifrões e números, evocando a cada passo a certeza da ciência. Estamos sedentos de fé, e procuramos suspender a rapidez do raciocínio com drogas e compras, comida e adrenalina. Órfãos do divino, seguimos alheados, num jogo de espelhos online. É triste. É pouco.

No segredo do teu coração habita o divino, pedindo para ser escutado e partilhado em encontro. Tal comunhão é subtil, invisível, por vezes, tal como a rede radicular das árvores comunica encoberta. Creio num só Amor aberto a todos os Seres, que pratico dia-a-dia, sorrindo. Saiba eu reconhecer nas prosaicas circunstâncias da vida o desígnio sagrado, a força maior. Confie eu na busca sincrética, que acolhe plurais tradições e, no altar interno, conjuga saberes. Possa esta ser a minha verdadeira, ardente, comunidade de fé. Assim rezo.

#image_dianavalmeida — At a friend’s door

sobre o meu trabalho

O meu serviço centra-se em três áreas — Energia, Criatividade e Visão

Ofereço uma terapia holística, combinando energia, taças tibetanas, cristais, sinergias de óleos essenciais personalizadas e (se a tua pele quiser ser tocada) massagem intuitiva — Afinar o Coração

Proponho workshops de desenvolvimento humano, unindo escrita e meditação, ou mentorias criativas individuais para desenvolveres um projeto de escrita ou trabalhares um tópico específico — Escrever o Coração

Realizo Rituais Fotográficos que honram a beleza singular de cada Ser — Retrato Sagrado e Corpo Vivo: Deusa Grávida.

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Grata. Bem-hajas!

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